Membro do Conselho de Ética, o deputado federal Mário Heringer (PDT/MG), votou nesta terça-feira (09) a favor do relatório que pede a cassação do mandato da deputada Flordelis (PSD/RJ), acusada de ser mandante do assassinato do marido, o pastor Anderson do Carmo, em junho de 2019. O relator do processo foi o deputado Alexandre Leite.
“Essa questão de estar aqui para fazer vingança, para fazer punição não é o nosso desdenho, não é o nosso querer, não é o que nós entendemos que possa ser feito. O que eu gostaria de estar fazendo aqui hoje era dizer para todas as pessoas que nada disso passou de um grande equívoco. Entretanto, as provas acumuladas no voto do relator Alexandre Leite não deixam dúvida nenhuma de que houve tentativas, sim, de obstruir a justiça, de obstruir a investigação, e, para isso, não há remédio. Hoje, eu coloco, depois de muito pensar, muito claramente, que neste momento não há outra situação: nós temos que apoiar o voto do relator”, justificou o parlamentar mineiro durante a sessão na Comissão de Ética.
A decisão de cassação do mandato da deputada Flordelis precisa ser confirmada pelo plenário da Câmara dos Deputados. São necessários 257 votos, ou seja, maioria absoluta.
Confira na íntegra a manifestação do deputado Dr. Mário Heringer durante reunião na Comissão de Ética.
Quero cumprimentar a representada, a Deputada Flordelis, o Relator Alexandre Leite, que fez um relatório onde trabalhou e mostrou que se aprofundou efetivamente na questão. Fiquei impressionadíssimo com o trabalho da advogada, a Dra. Janira, que fez um trabalho admirável, que nos trouxe a discussão da presunção de inocência. É um pilar importante da nossa justiça a presunção de inocência, porque ninguém deve ser condenado sendo inocente, ninguém pode ir para a cadeia, ninguém pode ir para lugar nenhum sendo inocente, porque esse tipo de julgamento e esse tipo de pena são penas completamente fora de propósito quando a coisa acontece. Entretanto, eu quero dizer para o senhor, Presidente, para a senhora representada, para os meus pares aí na Câmara dos Deputados… E aqui quero pedir desculpas, Presidente, por não poder estar aí presente neste momento, porque eu gostaria de ter ido, estar presente neste momento, porque é um momento solene da Câmara dos Deputados, onde nós cuidamos, efetivamente, da imagem do Parlamento brasileiro, do Legislativo brasileiro, com a preocupação de que as pessoas entendam que nós não estamos sendo corporativistas, passando pano e passando por cima de situações. Eu pedi para fazer este momento de reflexão junto aos senhores porque a Deputada Flordelis merece todo o meu carinho, todo o meu respeito. Entretanto, o que foi colocado no relatório do Deputado Alexandre é muito bom, é muito duro, é muito profundo, como disse aí o meu amigo Júlio Delgado, companheiro Deputado de muitas lutas, com quem já divergi várias vezes, até porque, no Conselho de Ética — está sendo a minha primeira vez no Conselho de Ética da Câmara, estou aí desde 2003 —, pelo vigor, pela intensidade que o Júlio sempre colocou. O Júlio foi o Relator do processo de cassação do Deputado que era Ministro à época José Dirceu. Eu sempre vi o Júlio como um grande amigo, mas é muito voraz e muito duro com essas questões. Sempre admirei o trabalho do Deputado Carlos Sampaio, que nos antecedeu. E, com certeza, estou, pela primeira vez, no Conselho de Ética, exatamente, porque achava que eu tinha que estar aqui num determinado momento da minha carreira política. Essa questão de estar aqui para fazer vingança, para fazer punição não é o nosso desdenho, não é o nosso querer, não é o que nós entendemos que possa ser feito. O que eu gostaria de estar fazendo aqui hoje era dizer para todas as pessoas que nada disso passou de um grande equívoco. Entretanto, as provas acumuladas no voto do Relator Alexandre Leite não deixam dúvida nenhuma de que houve tentativas, sim, de obstruir a justiça, de obstruir a investigação, e, para isso, não há remédio. Hoje, eu coloco, depois de muito pensar, muito claramente, que neste momento não há outra situação: nós temos que apoiar o voto do Relator, gostando ou não do voto do Relator. Digo a V.Exa., Presidente, com muita sinceridade, que eu não gosto de punir, eu não gosto de me vingar, eu não gosto de bater: eu gosto de conquistar, eu gosto de seduzir, eu gosto de ser amigo, eu gosto de fazer as coisas funcionarem da melhor maneira e com empatia. É por isso que eu me coloco na posição da Deputada Flordelis, que fez uma defesa emocionante da sua posição. Mas, infelizmente, Deputada Flordelis e advogada Janira, que foi brilhante no seu trabalho, eu posso dizer às senhoras que, neste momento, não há que se confundir julgamento técnico com julgamento político. Com certeza, a nobre Deputada Flordelis está inclusa no segundo momento: ela está sendo julgada na política, e houve, sim, com certeza, quebra do decoro parlamentar. Por isso, com certeza, eu apoiarei, na hora do voto, o voto com base no relatório do Deputado Alexandre Leite.