Mário Heringer fala sobre a crise na Cafeicultura no Brasil

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Mário Lúcio Heringer, deputado federal pelo PDT, nasceu em 1954 no município de Manhumirim, MG. Após concluir parte dos estudos em sua cidade natal mudou-se para Juiz de Fora, onde fez o curso de Medicina. Depois de formado resolveu se mudar para a cidade do Rio de Janeiro onde se especializou em ortopedia, se casou e durante mais de 20 anos trabalhou em diversos

hospitais na capital carioca. Em 2001 resolveu que era hora de ingressar na vida política. Elegeu-se deputado federal em 2002, e reelegeu-se no pleito de 2006. Nas duas disputas, foi o deputado federal mais bem votado em Minas Gerais pelo PDT.

Como foi tomar a decisão de largar a Medicina e optar pela carreira política?

Essa não é uma decisão simples, mas é uma decisão que a gente tem que tomar. Se a gente tentar fazer as duas coisas ao mesmo tempo, não faz bem nenhuma das duas. Eu tenho um compromisso comigo mesmo de dar o melhor de mim naquilo que eu estiver me dedicando. Eu tenho certeza absoluta que eu fui um bom médico e que posso voltar a ser quando um dia parar de me dedicar à política. E tenho certeza que estou fazendo tudo para continuar sendo um bom político, mantendo uma tradição do nosso Estado e do nosso País, de ter políticos voltados para os interesses maiores da população e não para as picuinhas.

Foi uma decisão repentina ou o senhor já sonhava com a vida política desde a adolescência ou juventude?

Eu acho que a gente nasce político e isso a gente percebe nas ações que realizamos durante a vida. Mas eu participei realmente da política quando eu estava na faculdade, através da política universitária, e depois disso fui pro Rio me dedicar à vida profissional. Mas a política nunca sai do sangue não, acredito. A gente só reacende esta chama dentro de nós. As pessoas que gostam mesmo de política, uma hora ou outra acabam assumindo isso.

Por duas vezes o senhor foi o Deputado Federal mais bem votado em Minas Gerais pelo PDT. Por que o senhor optou pelo PDT?

Eu sempre tive um comportamento socialista. Eu sempre gostei das teses do Trabalhismo. E quando eu fui para o Rio de Janeiro morar lá, foi exatamente quando se reiniciou a redemocratização, e nesse período eu convivi mais de perto com as teses trabalhistas, uma vez que ocorria a disputa pelas siglas entre a Ivete Vargas e Leonel Brizola. A gente trabalhou, ajudando amigos nossos na época a disputar as eleições. Então, a afinidade é pelas propostas, pela base política, pelo entendimento que a gente tem da maneira de governar. É por isso que eu sou pedetista.

Ao longo desse tempo, exercendo seu mandato na Câmara Federal, quais têm sido suas principais bandeiras políticas?

Eu procuro dizer que minhas bandeiras são e serão sempre as bandeiras do meu partido, mas principalmente as bandeiras dos homens de bem. Onde estiver a razão e o bem estar para a maioria da nossa comunidade, da nossa sociedade, eu estou nelas. Mas as bandeiras mais importantes pra nós, partidariamente, são a educação, o trabalho e o emprego, além da saúde.

Ultimamente o senhor ingressou numa luta em defesa dos produtores rurais, em especial da cafeicultura da nossa região. Como se deu esse processo?

Na verdade, há muitos anos a gente assiste essa luta dos cafeicultores da nossa região. Nós temos hoje aqui na nossa região a melhor distribuição fundiária, a melhor densidade demográfica rural, quer dizer, a região foi toda bem ocupada por pequenos e médios produtores e são estas pessoas que alimentam e que dão todo o dinamismo econômico da nossa região. Nossa região só funciona, e tem riqueza no comércio, tem riqueza na medicina e em outras atividades e serviços, porque existe o café. As pessoas têm uma tendência a dizer que o cafeicultor está chorando de barriga cheia. Não está não. A coisa está feia, os preços dos insumos são caros, o custo da mão de obra hoje afeta a produção, apesar de eu entender que o trabalhador mereça ser bem remunerado. E o mais importante: os grandes conglomerados econômicos estão ditando o preço do café e sufocando o produtor. Então, nessa condição, eu acho que nós tínhamos que mobilizar não só os produtores, mas todas as cadeias de trabalho que geram recursos em nossa região, em torno de uma luta para favorecer a cafeicultura. Então foi em torno disso que entrei nessa defesa. Eu acredito na cafeicultura como o maior e mais importante veículo econômico e social da nossa região. Eu vou continuar nessa luta, inclusive organizando na base do Governo uma espécie de bancada ruralista, para que nós possamos conseguir os intentos e realizar para nossa sociedade e nossa região o bem estar. Nós conseguimos a liberação de 300 milhões de reais para o refinanciamento da CPR, mas dentro do próprio Governo, dentro do próprio povo que está aí nas antigas da cafeicultura, houve o boicote, uma dificuldade dentro do Banco do Brasil, justamente para prejudicar, porque eles não querem ajudar.

Até agora a gente percebe apenas o envolvimento dos sindicatos dos produtores rurais de Lajinha, de Manhuaçu e de Manhumirim. Como o senhor vê a falta de participação dos movimentos organizados da nossa região?

Eu fico incomodado, porque eu fui lá em Varginha, participar de um encontro de cafeicultores e tinha 25 mil pessoas na rua. Eles conseguem se mobilizar, se defender. Só que lá, já é uma tradição, os movimentos são ligados a partidos políticos antagônicos ao Governo. Então o Governo hoje não facilitaria a vida deles, exatamente por isso. Nós precisamos nos organizar aqui. Temos que chamar os sindicatos de trabalhadores e de produtores rurais de toda a nossa região, para nos unirmos em torno dessa luta. Eu me proponho, inclusive, a organizar a partir do segundo semestre agora, um grande encontro na nossa região, de presidentes dos sindicatos dos trabalhadores e dos produtores rurais, para que possamos discutir e tentar fazer um trabalho conjunto e levar à Presidência da República, ao Ministério da Agricultura, a realidade dos fatos e a tentativa de resolver este problema.

O que mais vocês pretendem com esta luta?

Bem, nós temos que criar duas situações: acabar com essa eterna dívida. Não estamos pedindo anistia, mas condições para pagar a dívida com produtos que não sejam submetidos a taxas cambiais e a juros extorsivos. É por isso que a gente pede um prazo de 20 anos para o pagamento e pagamento com o próprio café. Com isso, a gente cria um estoque regulador dentro do Governo e se o Governo quiser regular a produção e manter um preço para que nós não tenhamos problemas no futuro, nós teríamos capacidade de gerar renda. Nós melhoramos a qualidade de café em nossa região e os preços continuam ruins. Então se nós conseguirmos este parcelamento da dívida em 20 anos, com o pagamento em produto e uma fixação hoje de 320 reais a saca do café, com certeza a gente dá um salto para resolver o problema da cafeicultura nacional.

O senhor também preside a Frente dos Vereadores, que tem a intenção de reorganizar as Câmaras Municipais em todo o Brasil, que tiveram o número de vagas reduzido em 2004. Como está este trabalho?

Este é um processo que julgo de maior importância. A representatividade popular e proporcional não pode ser lesada. O Tribunal Superior Eleitoral lesou e foi referendado pelo Supremo. Eles legislaram onde não deveriam legislar. Acho que nós temos que recuperar esta representatividade e, para isso, já estamos constituindo uma comissão especial e eu espero que, em breve, tenhamos essa votação e definição dessas posições. O Brasil não pode prescindir do Poder Legislativo e o Poder Legislativo não pode deixar que o Poder Judiciário interfira nas suas ações e nas suas funções. Nós precisamos que a sociedade acompanhe, veja quem está trabalhando e o que está fazendo. E a própria sociedade, e a imprensa têm responsabilidade nisso, separe o joio do trigo. A imprensa é o maior órgão que a gente tem hoje para o fortalecimento da democracia, e o interesse tanto da imprensa, quanto do Poder Legislativo tem que ser o povo brasileiro.

Deputado, hoje o Senado Federal vive um momento muito constrangedor e está com a imagem bastante arranhada, que acaba afetando toda a classe política. Qual a avaliação que o senhor faz dessa situação?

Ah, é bastante constrangedor para a gente, não é? Eu já imaginava que poderia ter muito mais coisas no Senado, como tem na Câmara, no Governo Federal, no Poder Judiciário. Eu acho que coisas boas existem em todos os lugares e coisas ruins também. Mas, no Senado, eu sempre achei que poderia ter mais coisas ruins, porque uma casa que tem 81 senadores ter um orçamento anual igual ao da Câmara dos Deputados, que tem 513 membros, significa que o Senado está gastando sete vezes mais que a Câmara. E todo mundo diz que a gente já gasta muito, você imagina no Senado! Então, eu imagino que lá deve ter muita distorção a ser corrigida. Isso nos incomoda, porque essas distorções não são da maioria não. São pequenos grupos privilegiados lá dentro que comandam, que nomeiam os diretores, que montam seus esquemas escusos e que tem que ser descobertos e punidos. Eu acho que tem que botar pra fora mesmo e consertar o mal feito.

Essa crítica aos parlamentares acaba tendo reflexos também na nossa região. O que o senhor tem a dizer a respeito dos comentários que visam atingir os deputados na nossa região?

Bem, eu estou chateado com uma reportagem que eu li, não vou dizer quem falou, mas estou acionando juridicamente um pré-candidato que já está particularmente trabalhando em nossa região, que disse uma frase que ele vai ter que dizer sobre quem se referia. Eu acho que um agente político quando emite qualquer tipo de opinião, tem responsabilidade por ela. Principalmente ele, que não é deputado, mas apenas um pré-candidato, segundo ele mesmo, não tem nem o direito de emitir opinião ainda. Como cidadão ele tem esse direito e como cidadão é que ele vai responder quem são os deputados que ele afirma que envergonham a nossa região, porque eu estou muito à vontade: eu não envergonho a minha região, nem meu Estado, nem meu País, e muito menos a minha família. Ele vai ter que responder em juízo porque este tipo de ação eu não vou admitir.

Ano que vem é um ano de eleições. Como estão as articulações políticas em nossa região?

Por enquanto estamos todos trabalhando para nos organizar em torno das eleições 2010. Quando houver a decisão do governador Aécio Neves, se ele vai ser candidato ao Senado ou à Presidência da República, as peças vão se mexer no tabuleiro. E a gente espera estar participando dessas mexidas. O PDT quer estar participando da chapa majoritária em Minas Gerais. Mas, vamos ver o que vai acontecer. Em princípio, serei candidato a Deputado Federal nas próximas eleições.

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