Sr. Presidente,
Sras. e Srs. Deputados,
Desde o surgimento do marketing político, as campanhas políticas tornaram-se milionárias e, conseqüentemente, inatingíveis para aqueles que não dispõem de recursos. Os custos dessas campanha passaram a ser até uniformizados. Existem inclusive tabelas divulgadas reiteradamente pela imprensa, com os custos redondos e necessários para se eleger Senador, Deputado Federal, Deputado Estadual ou Vereador. Isso para nos limitarmos aos cargos proporcionais, pois, com relação aos cargos majoritários, de Prefeito a Presidente da República, essas cifras atingem valores ainda maiores, estratosféricos, inimagináveis para a maioria da população.
Várias são as alterações necessárias, Sras. e Srs. Deputados, para tornar nosso processo político mais honesto e transparente, mas creio que uma das principais causas do nosso aviltamento político é a disputa cada vez mais acirrada no campo da publicidade. Estamos hoje na mesma categoria dos produtos comerciais, exigindo-se a cada eleição campanhas mais agressivas e sofisticadas, e, por conseguinte, também vultosos recursos, muitas vezes de origem obscura, que são gastos sem qualquer controle nem transparência. Os resultados funestos dessa prática são hoje sobejamente conhecidos, e o comprometimento de quem se elege dessa forma é implícito.
A agressividade do marketing político atingiu tamanho requinte que muitas empresas do setor utilizam descaradamente estratégias comerciais para divulgação. Vale inclusive registrar algumas delas: “A proposta que temos é de uma estratégia inteligente para tratar cada segmento de seus eleitores de forma eficaz. São técnicas utilizadas por bancos, administradoras de cartões de crédito, redes de varejo (…), enfim, empresas que buscam conhecer ao máximo cada cliente para poder cativá-los cada vez mais”. “Utilize sua imagem de forma eficiente para atingir o seu público alvo. Buscamos, através de pesquisas de campo, detectar as necessidades desse público alvo para direcionar a sua campanha”. “Todo esse trabalho vai resultar na aprovação de seu eleitorado, com resultados concretos no número de votos”.
Isso não é, definitivamente, Sras. e Srs. Deputados, fazer política com decência. O eleitor está sendo iludido por superproduções hollywoodianas, e é uma afronta que isso aconteça em um País de tantas disparidades sociais como o nosso.
Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.