Relator apresentará substitutivo sobre papéis sigilosos

“Para nós é fundamental abrir esses arquivos. Temos a expectativa de que eles dêem conta do paradeiro dos corpos de pessoas que desapareceram durante o regime militar.”

– Augustino Veit
Presidente da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos do Ministério da Justiça

(Brasília – 04/01/2005)
A pedido do presidente da Comissão Especial de Arquivos Governamentais Confidenciais, Deputado Mário Heringer (PDT-MG), o seu relator, deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), anunciou que apresentará substitutivo para reunir todos os textos legais que existem hoje sobre o assunto.

A Comissão Especial foi criada em dezembro pelo presidente da Câmara, João Paulo Cunha, para analisar os nove projetos de lei que tramitam na Casa sobre o assunto.

A pedido do Deputado Mário Heringer, que deseja uma lei não só para a época do regime militar, mas para o Estado brasileiro, que regulamente o sigilo de documentos e seu acesso pelo público, universidades, pesquisadores e interessados deve ser observada pelo relator e sugeriu ao grupo que estude a legislação de países da América Latina e da Europa que tratam do acesso a arquivos públicos.

Legislação nacional
Embora a Constituição Federal garanta ao cidadão o acesso a documentos públicos que sejam de interesse pessoal ou coletivo, esse direito pode ser limitado no caso de papéis considerados sigilosos. O tema é regulamentado pela chamada Lei de Arquivos, sancionada em 1991 e que resultou de debates entre instituições acadêmicas e o Arquivo Nacional, órgão atualmente vinculado à Casa Civil da Presidência da República. Ainda tratam do assunto os decretos 2134, de 1997; 4553, de 2002, alterado no último mês de dezembro pelo decreto 5301; e a Medida Provisória 228, assinada pelo presidente Lula.
De acordo com a legislação em vigor, os documentos públicos podem ter o acesso vedado ao público pelos prazos máximos de 5 a 30 anos, renováveis por uma vez. Já os papéis que tratam da vida privada, honra e imagem das pessoas têm acesso restrito por um século.

Brasil está atrasado
O presidente da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos do Ministério da Justiça, advogado Augustino Veit, alerta que o Brasil está atrasado em relação a outros países na definição de uma lei de acesso a informações públicas. Segundo ele, essa lei facilitará o trabalho da Comissão, que já reconheceu a morte e o desaparecimento por questões políticas de quase 500 pessoas. “Para nós é fundamental abrir esses arquivos”, disse. “Temos a expectativa de que eles dêem conta do paradeiro dos corpos de pessoas que desapareceram durante o regime militar, sobretudo aqueles que estiveram na Guerrilha do Araguaia”.
Na Guerrilha do Araguaia, movimento político que aconteceu no início da década de 70, desapareceram 59 militantes do PC do B. As famílias lutam até hoje na Justiça para obter informações sobre o local onde os corpos foram enterrados.

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