Araguaia: deputado denuncia mais 8 ossadas não identificadas


DEPUTADO Mário Heringer está em Fortaleza para apurar denúncias sobre destruição de documentos militares (Foto: CLÁUDIO LIMA)
O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal, Mário Heringer (PDT/MG), afirma que existem na verdade oito ossadas não identificadas que podem pertencer a ex-guerrilheiros que atuaram na região do Araguaia nos anos 70. Na edição de ontem, O POVO publicou com exclusividade dados obtidos do relatório da Equipo Argentino de Antropologia Forense (EAAF) – responsável pela identificação das ossadas dos desaparecidos políticos exumados do cemitério público de Xambioá (Tocantins) há nove anos – indicando a existência de duas caixas com esse material. Uma dessas ossadas poderia ser do cearense Bergson Gurjão Farias.

O deputado teve acesso ao material no segundo semestre de 2004 através do envio de ofício do Instituto Médico Legal (IML) de Brasília à Comissão, logo após a divulgação de possíveis fotos do jornalista Vladimir Herzog, em situação constrangedora, e sem a identificação do local exato onde estaria preso. Posteriormente se confirmou que a foto era do padre canadense Leopold d’Astous. Segundo o deputado, o laudo apresentado pelo IML, na época, detalhava apenas elementos antropométricos (detalhes de tamanho) das ossadas, impossibilitando saber a quem pertenceriam. O deputado, que é ortopedista, estranhou por que não teriam sido realizados exames de DNA para futura comparação com os de familiares e os devolveu ao órgão, solicitando a realização dos mesmos.

Ele ressalta que depois não obteve resposta do IML, mas com a matéria veiculada pelo O POVO deverá requerer formalmente ao órgão que providencie os exames de DNA e a comparação com os dados dos familiares. O parlamentar considerou descaso e falta de respeito com os parentes das vítimas dos desaparecidos o fato de as famílias não terem sido contactadas até então. ”Os exames de DNA precisam ser feitos para que não pairem dúvidas, independente de confirmação ou não”.

Mário Heringer está em Fortaleza para apurar denúncias sobre destruição de documentos militares relacionados à ditadura militar. Além dele, participam da visita os parlamentares federais petistas João Alfredo (CE), Luis Couto (PB) e Luis Alberto (BA). Hoje, a comissão se reúne às 16 horas com o governador Lúcio Alcântara, onde deverá solicitar formalmente que sejam liberados documentos que estejam sob a guarda de órgãos estaduais. Na avaliação do parlamentar, a atuação das polícias militar e civil no período da ditadura foi preponderante. ”Por isso deve haver muita coisa guardada”.

Antes do encontro com o governador, o grupo estará reunido às 10 horas com membros da Associação 64/68, na sede do órgão, localizada à avenida Carapinima. A comissão já visitou os estados da Bahia, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Nos dois últimos, obteve a confirmação dos governadores Aécio Neves e Germano Rigotto, respectivamente, de que os arquivos serão abertos. O parlamentar ressalta que o objetivo das visitas não é criar clima de revanche com os militares, mesmo porque, diz, ”muitos deles cumpriam ordens e acreditavam no que faziam. O que me parece grave é que ainda hoje se mantém a doutrina daquela época, e precisamos ter cuidado em relação a isso”.

Matéria original do site: O Povo
http://www.noolhar.com/opovo

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