Mário Heringer: Não tenho a menor dúvida que este é o maior mecanismo de constrangimento usado pelas operadoras de Planos de Saúde sobre a livre prática médica. É a partir dessa possibilidade real de “demissão” que o médico é induzido à subserviência pela sua sobrevivência e dos seus. O descredeciamento é a arma silenciosa da chantagem usada explicitamente nos momentos de pressão econômica. É usada para não melhorar os preços pelos serviços, para diminuir o preço dos serviços, para restringir a solicitação de exames, para diminuir as reclamações pelos atrasos de pagamento, para diminuir as reclamações pelas glosas injustificadas, enfim, é a guilhotina pronta para agir em caso de reação às práticas comerciais predatórias.
Jornal da Febrasgo: Na sua opinião, como se explica a aprovação da Lei (9656-3/7/98) contendo tantos aspectos prejudiciais, desrespeitosos à atuação do médico e a de seus pacientes?
Jornal da Febrasgo: O senhor acredita que a obrigatoriedade de relatório, detalhado como o senhor se refere na sua proposta do artigo 35-N a Lei 9656 3/7/88 vai contar com a aprovação “serena” das operadoras de planos de saúde?
Jornal da Febrasgo: O senhor não acredita que a sua proposição ampla, austera e contundente não vai causar uma reação “intensa” das operadoras de saúde?
Quando nós tivermos esse relacionamento respeitado amplamente, com austeridade e firmeza, teremos um sistema suplementar forte trabalhando por mais de 40.000.000 de brasileiros desafogando o Sistema Único de Saúde (SUS), dando melhor condição ao povo e ao governo brasileiro de ter e cuidar adequadamente de saúde do nosso país. O momento de luta pelo qual passamos hoje, acho eu, terminará com a conscientização dos gestores das operadoras de planos de saúde de que não teremos saída se continuarmos procedendo como se estivéssemos vivendo no presente o último dos nossos dias.
O futuro se mostrará promissor se conseguirmos equilibrar essas relações e a contundência de hoje objetiva acordar os tomadores (planos de saúde) e os fornecedores (fabricantes de materiais e insumos hospitalares) para a possibilidade de um futuro digno para todos os atores desse nosso sistema suplementar de saúde, principalmente para eles.
Jornal da Febrasgo: Quais as chances que o seu projeto tem de ser amparado, já que é sabido o poder de mobilização que tem as operadoras de saúde na Câmara?
• Descredenciamento unilateral / injustificado
• Exclusividade para credenciamento
• Relatórios fora do Padrão ANS
• Glosa de contas / procedimentos / valores
• Retenção arbitraria de tributos
• Pagamentos inquestionáveis dos procedimentos autoritários
O tempo aqui, é muito lento e, se por um lado faz a decisão possível e equilibrada, por outro, deixa a sociedade sem parâmetros e angustiada. Velocidade não deve ser confundida com precipitação e falta de zêlo. Quanto as chances de vermos esses pleitos aprovados só dependerão de mobilização das entidades médicas/hospitalares e seus membros, atenção “e seus membros”. Todas as questões que propomos são justas e de maneira alguma acarretarão em prejuízo para as operadoras, exceto pelo poder de constrangimento ilegal que hoje as protege na omissão legal.
Agora, sou eu quem pergunta:
• O que pode ser mais lesivo as operadoras que o fim desse “negócio” ?
• O que pode ser mais justo que o descredenciamento somente por causas justas (erros/ilícitos provados) ?
• Porque não criar critérios de credenciamento objetivando o estímulo ao desenvolvimento profissional (residência, pós-graduação, etc.) pela qualidade ?
• Porque não temos formulários unificados para facilitar o trabalho e a geração de informação epidemiológica e de custos ?
• Porque não pagarmos nossas contas devidamente, no dia, com impostos corretos, sem glosas injustificadas e com valores corretos ?
• Porque não cuidarmos com carinho dos nossos clientes ?
A convicção que tenho é que agindo assim, incisivamente, estou lutando pela SAÚDE digna para o povo brasileiro, pelo EMPREGO garantido a milhões de brasileiros, pela EDUCAÇÃO CONTINUADA a milhares de médicos e profissionais de saúde brasileiros, pela INDÚSTRIA e EVOLUÇÃO TECNOLÓGICA dos fornecedores de matérias e insumos da industria brasileira e, final e paradoxalmente pela sobrevivência dos planos de saúde brasileiros, hoje, os mais gananciosos do segmento (alguns de seus dirigentes).
Jornal da Febrasgo: A agência (ANS) tem chance de resolver isso?
Passados os mandatos ela se “renova” com novo presidente que é bem visto pelas operadoras porque “entende o sistema pela nossa ótica”, novos diretores claramente ligados a operadoras em passado recente e novos assessores que são antigos diretores retornando ao controle.
A Agência (ANS) do jeito que foi e como esta, com a acomodação do Ministério da Saúde em não ditar políticas públicas para o setor suplementar, não irá melhorar nada para o Brasil. A vontade política ali, só será despertada como sempre, pela DEMANDA POPULAR.
Insistamos, então! Fonte: Jornal da FEBRASGO, ano 11, nº 5, junho de 2004.
Site: www.febrasgo.org.br