Diário entrega documentos ao governo


Diretores do Diário do Nordeste entregaram ao governo estadual documentos do Dops referentes à ditadura
Já está sob a tutela do governo do Ceará a primeira documentação encontrada no Ceará sobre a atuação do Departamento de Ordem e Política Social (Dops) referentes ao período de 1964 a 1987. Ontem pela manhã, na sede do Diário do Nordeste, o diretor superintendente e o diretor editor, respectivamente, Pádua Lopes e Ildefonso Rodrigues, entregaram o material para Papito de Oliveira, presidente da Comissão de Anistia Wanda Sidou. Parlamentares, que compõem a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, acompanharam a cessão desses papéis.

A documentação continuará no prédio do jornal por aproximadamente mais dois meses. Durante esse tempo, será catalogada por funcionários do Arquivo Público do Estado do Ceará. Em seguida, cópias serão entregues para a direção do Diário do Nordeste, para a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados e para o governo do Estado. O material, que originou a série de reportagens “Segredos da Ditadura”, foi cedido ao governo do Estado, atendendo a uma solicitação do governador Lúcio Alcântara. O deputado federal Mário Heringer (PDT-MG), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, também solicitou cópias dos documentos.

Papito de Oliveira revelou que tem encontrado dificuldade em conseguir qualquer documento desse período. “Na sede do antigo Dops não há nada sobre esse período (1964 a 1987)”, assegura. Ele garantiu que a documentação ajudará “no ponto de vista comprobatório” dos cidadãos que solicitam indenização ao governo do Ceará por terem sido presos políticos na época da ditadura. Ele disse que o Estado não “tem idéia” de como essa documentação caiu nas mãos de particulares. Mário Heringer explicou que, ao analisar a documentação, a comissão poderá “entender como funcionava a cabeça do regime militar”. O deputado federal João Alfredo (PT-CE) disse que os documentos poderão ajudar o governo federal no momento de conceder indenizações às pessoas perseguidas pela repressão e na busca dos restos mortais daqueles que ainda se encontram desaparecidos.

Os deputados federais Luís Couto (PT-PB) e Luís Alberto (PT-BA) também salientaram a importância da documentação. Luiz Couto inclusive disse que a comissão quer ter acesso a todas as reportagens da série. Mário Albuquerque, presidente da Associação 64/68 – Anistia, frisou que o jornal “prestou um serviço à consolidação da democracia no Brasil, através das matéria publicadas (com base nos documentos do Dops)”. Ele reconheceu que o material pertence ao governo do Estado, mas disse querer ter acesso aos papéis.

Depois de catalogada, a documentação será enviada para o Arquivo Público do Estado do Ceará. Contudo, segundo o ex-guerrilheiro Carlos Thmoskhenko, esses documentos precisam ser abertos à consulta pública. O deputado estadual Chico Lopes (PCdoB) também defende a abertura dos arquivos referentes ao período da ditadura militar que estejam sob a responsabilidade do governo. Ele apresentou um projeto de lei, que foi aprovado pela Assembléia Legislativa, mas foi vetado pelo governador.


Matéria original do site: Diário do Nordeste
http://diariodonordeste.globo.com/

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