O SR. MÁRIO HERINGER (PDT-MG) Pela ordem:


Sr. Presidente,
Sras. e Srs. Deputados,

não é sem razão que toda a mídia tem abordado com ênfase, nos últimos dias, os grandes escândalos de corrupção que assolam o País, enfatizando sobretudo os riscos que estamos correndo com esse desenfreado processo, que deixa o cidadão enojado e estupefato diante de tanta desfaçatez. São óbvios e inerentes os prejuízos que a sociedade absorve ao ver que a corrupção que domina a administração pública é regra, e não exceção. Não escapam das denúncias nem mesmo algumas instituições que, pelo menos teoricamente, deveriam manter as suas atividades exclusivamente direcionadas para o plano espiritual. Hoje o cidadão comum, provido de candura e boa-fé, acompanha com um amargo gosto na boca a total degradação de nossas instituições. O gosto amargo das esperanças dilaceradas, do triunfo do mal, da corrupção dos costumes.

Esse desânimo que se apossa do povo, Sras. e Srs. Deputados, é o mais perigoso dos sentimentos. Por instinto de sobrevivência, muitos cidadãos de bem passam a adotar uma postura de cinismo – e vale aqui o significado mais pejorativo da palavra – diante de tanta podridão. Os valores éticos e morais passam a ser minimizados diante do triunfo dos maus. Nossa sociedade adota como parâmetro de sucesso a capacidade do indivíduo de amealhar fortuna. O cidadão é hoje admirado pelo patrimônio que conquista, por mais escusos que possam ser os métodos que utiliza para atingir esse objetivo. Encaramos o homem economicamente bem-sucedido como se fosse um vencedor. Não importa de que forma esse enriquecimento foi alcançado.

O conceito de elite, até há pouco tempo, era dimensionado pelo estofo intelectual do indivíduo. Sua inserção na camada mais alta da sociedade dependia unicamente de suas idéias, da sua importância para a comunidade. Era necessário pelo menos que suas palavras e idéias cativassem multidões. Alguns poucos conseguiam furar esse bloqueio pelo poder do dinheiro, mas eram sempre encarados com reservas. Hoje o estofo intelectual, a probidade, a ética e a moralidade são dispensáveis para que o indivíduo se insira na mais alta casta social. Nossa elite é hoje formada por endinheirados. Muitos criam falsos impérios econômicos, como bancos e empresas de grande porte, posam de mecenas, são bajulados pelos poderosos, e continuam impunes mesmo após os seus castelos ruírem, causando enormes prejuízos a boa parcela da sociedade. A ENCOL e o Banco Santos são alguns desses exemplos mais recentes.

Um dos piores subprodutos da corrupção, Sr. Presidente, é o mau exemplo que o corruptor dissemina pela sociedade. Sua atitude causa uma infecção generalizada na população e joga por terra todos os valores que devemos cultivar. Matérias de revistas desta e de outras semanas enfocam com bastante propriedade os malefícios que a corrupção causa à nossa economia. Por outro lado, reconhecem que acabar completamente com ela é uma utopia, mas conseguir atingir um nível aceitável e correspondente apenas à fraqueza inerente da condição humana já seria um grande avanço.

Para isso, no entanto, é necessário que o Estado esteja disposto. A administração pública deve ser movida pelos princípios que a regem: da legalidade, da igualdade, da razoabilidade, da motivação, da moralidade administrativa, da publicidade e da impessoalidade. É óbvio que o Estado, ao contrapor os interesses políticos a esses princípios, colabora consideravelmente para que as aves de rapina atuem com desenvoltura. Uma chocante desenvoltura, que deixou a população estupefata nas matérias veiculadas pela mídia nos últimos dias.
Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

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