O SR. MÁRIO HERINGER (PDT-MG) Pronuncia o seguinte discurso:

Sr. Presidente,
Sras. e Srs. Deputados,

A pujança da economia americana pode e deve ser creditada em boa parte aos imigrantes, ilegais ou não, que vivem nos EUA. Nos últimos dias, os meios de comunicação do mundo inteiro deram ênfase à greve relâmpago engendrada pelos mais de 40 milhões de pessoas que vivem nessa situação. É um considerável contingente populacional e que exerce forte influência em todos os setores econômicos e culturais dos Estados Unidos. Desses milhões de cidadãos que formam um país à parte, cerca de 12 milhões ainda vivem na clandestinidade: por eles o movimento foi deflagrado. A decisão de paralisar todas as atividades por um dia foi com o objetivo de alertar as autoridades para os riscos que existem em ignorar a importância estratégica que esses imigrantes representam para economia americana. Todas as armas de repressão que o Governo americano sempre fez questão de utilizar contra a imigração ilegal no intuito de coibir o seu incômodo aumento podem ser inúteis se novas greves forem registradas, sobretudo se a adesão for maciça e bem-sucedida como foi a paralisação relâmpago do último final de semana.

Esse protesto, Sras. e Srs. Deputados, foi motivado pela forte tendência das autoridades americanas em adotar medidas rígidas no combate à imigração ilegal, como é o caso do projeto de lei que prevê o aumento do controle sobre os estrangeiros ilegais, punindo as empresas que contratarem imigrantes em situação irregular e também aumentando a segurança nas fronteiras. A pretensão de alguns políticos americanos, sobretudo os mais conservadores, é de transformar em delinqüentes mais de 12 milhões de pessoas que, premidas pelas dificuldades que enfrentam em seus países, buscam melhor sorte nos Estados Unidos. Querem ser vencedores em terra estranha, já que a sua pátria não lhes deram essa oportunidade. Mesmo que seja para ocupar os mais baixos postos de trabalho.

O Governo americano não contava, no entanto, com a possibilidade de aglutinação dessa enorme massa de trabalhadores. Mesmo pressionado pela necessidade de refrear o incômodo processo de imigração ilegal, que ameaça inclusive acabar com a hegemonia dos nativos americanos em curto espaço de tempo, todos sabem que caso venha a ser deflagrada uma greve de maiores proporções a economia americana sofrerá um enorme abalo. Pela primeira vez os imigrantes mostraram que não podem mais ser tratados como escórias da sociedade.

O Brasil ocupa, Sr. Presidente, um dos mais elevados postos entre os demais países que contribuem para suprir os Estados Unidos de mão de obra barata, e disposta a executar tarefas menos dignas que são recusadas pelos nativos. É lamentável constatar a nossa leniência com essa diáspora provocada por um crescimento econômico pífio, por uma carga tributária excessiva, que inibe o crescimento do emprego, por um Estado falido e incapaz de prestar os serviços mais elementares e por uma política que privilegia a usura e a especulação em detrimento da produção. Perde o Brasil e perdemos todos nós quando muitos brasileiros qualificados abandonam o nosso País em busca de oportunidade em outros cantos. Milhares e milhares deles poderiam contribuir sobremaneira para nosso crescimento econômico, pois são em sua grande maioria altamente qualificados, mas mesmo a contragosto são impelidos para o exílio forçado em outros países porque aqui apenas a desesperança lhes resta. Somos o país das oportunidades perdidas.

E doloroso constatar, Sras. e Srs. Deputados, que mesmo os países que mantinham conosco uma relação de cordialidade já começam a apertar o cerco aos nossos compatriotas. O Reino Unido, por exemplo, está negando a maioria dos vistos solicitados por brasileiros, e o Governo daquele país já pressiona o nosso Governo para que desestimule esse processo migratório. Há inclusive ameaças de revogação do acordo de isenção de visto entre os 2 países.

A única maneira que temos de desestimular esse processo migratório seria a retomada do crescimento, a criação de postos de trabalho. Infelizmente, para que isso aconteça é necessária uma soma de esforços que exige sobretudo um desprendimento difícil de ser alcançado numa sociedade onde os privilégios são tão arraigados que ninguém consegue deles abrir mão.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.

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